Quando ME olhas
quando a MEU lado, imóvel, sentada, suave te inclinas;
quando estendes as mãos, suavíssimas, porque queres
porque querias tocar, sim, a minha cara.
Tuas mãos como um sonho,
que quase como uma sombre ME tocam.
Olho teu rosto. Um sopro de ternura lançou
como que uma luz sobre as tuas feições.
Que formosa pareces. Mais menina pareces.
E olhas-ME.
E estás a sorrir-ME.
Que suplicas quando alongando as mãos, muda, ME tocas?
Sinto o fervor da sombra, do fumo que chega, subtil.
Que formosura, alma MINHA.
A casa, recolhida, calma, repousa.
E tu estás calada e sinto o teu rosto
suspenso, doce, em teus dedos.
Estás a suplicar. Tornas-te menina. Uma menina suplica.
Pedes. Quebra-se uma voz que não existe e pede.
Amor demorado. Amor nos dedos
que expulsa sem ruído, sem vozes.
E EU fito-te nos olhos, e olho e oiço-te.
Oiço a alma quetíssima, menina, que escutada canta.
Amor como um beijo.
Amor nos dedos, que escuto,
fechado em tuas mãos.
Vicente Aleixandre